quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Em quanto um burro fala o outro......

Atualmente, uma das competências mais valorizadas pelo mercado é a habilidade da comunicação. Um profissional que sabe se comunicar bem certamente será visto como alguém que sempre se sobressai e que sempre poderá ser lembrado por ter esta habilidade bem desenvolvida. Só que esta habilidade é um caminho de duas mãos; ela encerra dois princípios básicos, o saber falar e o saber ouvir. Particularmente conheço inúmeros profissionais que nasceram com o dom de falar, de expor idéias, de argumentar, de negociar,… Muitos deles se aperfeiçoaram nesta arte freqüentando cursos de oratória. Entretanto, este é apenas um lado da moeda. Vejo, muitas vezes, estes mesmos profissionais, tão hábeis na arte de falar, extremamente inábeis na arte de ouvir. Claro está que esta inabilidade pode propiciar conflitos e competições que podem gerar rompimentos, desentendimentos e até o término das relações entre as pessoas ou mesmo entre empresa e colaborador. Se o saber falar é algo essencial, o saber ouvir é tão ou mais essencial. Infelizmente não somos treinados para saber ouvir. Analise comigo o seguinte fato. O Ser Humano pode se comunicar de quatro maneiras diferentes: pela leitura, pela escrita, pela fala e pela escuta. Este mesmo Ser Humano gasta 65% do tempo ouvindo, 20% falando, 9% lendo e 6% escrevendo. Entretanto, as escolas só nos ensinam a ler, a escrever e a falar e não nos ensinam nada na prática do ouvir e do saber ouvir. Em muitas conversas, mesmo nos considerando bons ouvintes, podemos ter atitudes inconvenientes, como ficar pensando na resposta a ser dada, direcionando a conversa a nosso favor ou imaginando uma maneira de terminá-la rapidamente. Creio que todos conhecem o velho ditado, que afirma:”enquanto um burro fala, o outro abaixa a orelha”, sendo que a expressão “abaixa a orelha” tem o significado de ouvir com atenção e não interromper o nosso interlocutor. Mas permita-me analisar este ditado de outra forma. “Enquanto um burro fala…”, e fala…, fala… Qualquer um de nós conhece pessoas que falam sem parar, “pelos cotovelos”. Não dão uma brecha. Parar? Só para respirar. Não precisamos ser videntes para perceber que pessoas com esta característica só se prejudicam, seja nos seus relacionamentos pessoais, seja nos profissionais. “… o outro abaixa a orelha”. Outras, literalmente, “abaixam a orelha”, isto é, fecham seus tímpanos para seu interlocutor. Não possuem interesse na conversa, não dão a atenção necessária, “viajam”, ficam pensando na resposta a ser dada e, no momento de se manifestarem, mudam de assunto ou manifestam seu desinteresse dizendo sempre: “é…”, “sim,…”, etc. Pessoas com esta característica também se prejudicam e ainda são vistas como desinteressadas e antipáticas. Mas vamos um pouco mais adiante. O “abaixa a orelha” também pode ser traduzido por interrupções constantes. Neste caso, esta atitude mostra quatro aspectos negativos: se a pessoa for interrompida, aquele que interrompe não estava prestando atenção: se a pessoa se recusa a ouvir, é porque não valoriza a opinião do outro; a pessoa que interrompe não acredita ou não dá importância ao que o outro tem a dizer; e, a pessoa que interrompe é extremamente mal educada. Então pergunto: o que é o saber ouvir? Saber ouvir é uma habilidade que deve ser desenvolvida por pessoas que necessitam estar e entrar em sinergia com os objetivos, sonhos e expectativas de outra pessoa, com a finalidade de propor soluções e alternativas para as quais foram procuradas. James C. Hunter afirma que pensamos quatro vezes mais rápido do que falamos. Isto gera muito ruído interno em nossas mentes. Ele nos diz que “saber ouvir requer um esforço consciente e disciplinado para silenciar toda a conversação interna enquanto ouvimos outra pessoa. Isto exige sacrifício, uma doação de nós mesmos para bloquear o mais possível o ruído interno e, de fato, entrar no mundo da outra pessoa. Aquele que sabe ouvir tenta ver as coisas como que fala as vê, e sentir as coisas como quem fala as sente”. José Antonio Rosa nos diz que “saber ouvir é parar de falar. É relaxar, desarmar-se, tornar-se física e mentalmente receptivo. É permitir que o outro explane o seu ponto de vista. É evitar contra-argumentar, explícita ou implicitamente, enquanto o outro faz sua explanação. É deixar o próprio conhecimento de lado enquanto se capta as explicações e explanações do outro. É fazer perguntas apropriadas para tentar compreender e não para “pegar” o outro. É ter um genuíno interesse pela outra pessoa e suas razões, abandonando um pouco a concentração em seu próprio ego”. Margot Cardoso nos explica “que o saber ouvir envolve não apenas entender os fatos concretos, mas também os aspectos emocionais e subjetivos de quem fala”. Keith Harrel preconiza que “o saber ouvir é desimpedir a mente e colocar de lado as próprias experiências e valores, prestando atenção ao corpo e à alma de quem fala. É preciso compreender aonde ela quer chegar. Só depois é que devemos manifestar nossa opinião e, quiçá, nossa orientação. Stephen R. Covey diz que saber ouvir “significa transcender nossa autobiografia, sair de nosso marco de referência, fora de nosso sistema de valores, fora de nossa história e de nossas tendências de avaliação e entrar profundamente no marco de referência ou ponto de vista da outra pessoa”. Finalmente, Krishnamurti afirma: “saber ouvir não é ter humildade. É ter sabedoria”. Para que desenvolvemos o nosso “saber ouvir”, devemos atentar para: não tentar “adivinhar” o que o outro sente; não julgar e nem interpretar de forma precipitada; não interromper a pessoa; saber interpretar também a linguagem não verbal; desenvolver a empatia com seu interlocutor; fazer perguntas claras e diretas se precisar falar. Todos nós conhecemos cursos de oratória, mas ninguém conhece cursos de escutatótia. Tornar-se um bom ouvinte, atento e objetivo, é, talvez, a parte mais negligenciada da comunicação. Para nos tornarmos bons ouvintes é necessário que nos motivemos a aprender e a desenvolver esta habilidade. É doar tempo e atenção integrais ao outro quando ele se manifesta. É estar aberto para ouvir o outro e entender suas razões e emoções do que está sendo dito. Por tudo isso sugiro a modificação do ditado popular para “enquanto um burro fala, o outro LEVANTA a orelha”. Como começar? Comece lembrando que Deus, na sua infinita e grande sabedoria, deu a todos nós, Seres Humanos, uma boca e duas orelhas. Para que possamos ouvir mais e falar menos. Agora, o resto é com você. Ouviu bem? Dr.Luiz Roberto Fava Tags: atenção, Comuni